
Rogério Alves, advogado - O Bolsa Família, embora fundamental em momentos críticos da história brasileira, tornou-se uma armadilha silenciosa para o futuro presidente da República.
Atingindo mais de 21 milhões de famílias, o programa de transferência direta de renda é uma das maiores despesas fixas do orçamento federal e o que parecia uma solução contra a miséria tornou-se, com o tempo, uma dependência estatal sem perspectiva de superação.
Falta ao Bolsa Família o que deveria ser sua principal missão: criar oportunidades para que os beneficiários deixem o programa com autonomia e dignidade.
Hoje, a regra é clara — para entrar é fácil, mas sair é quase impossível. Não porque o programa seja uma prisão formal, mas porque o país não oferece mecanismos reais de ascensão social, nem vincula o benefício a políticas de capacitação, inserção produtiva ou crescimento regional.
É por isso que urge um novo modelo de distribuição de renda. Um que mantenha a proteção a quem mais precisa, mas que tenha regras claras de acesso e, principalmente, de saída. Um programa que, além de garantir o mínimo existencial, funcione como uma rampa para o trabalho formal, o empreendedorismo e a formação profissional.
Esse novo modelo precisa estar atrelado ao desenvolvimento da economia. Sem crescimento, não há emprego; sem emprego, o assistencialismo se perpetua.
É preciso investir em educação técnica, microcrédito, fomento à agricultura familiar, à economia criativa e ao pequeno comércio. O objetivo não pode ser apenas “dar o peixe”, mas também ensinar a pescar — e garantir que haja rio para todos.
O debate que falta ao Bolsa Família não é sobre sua extinção imediata, mas sobre sua transformação. Se continuarmos tratando o programa como solução definitiva para a pobreza, estaremos apenas empurrando o problema com a barriga e condenando gerações a uma vida sem perspectivas.
A responsabilidade é de todos: governantes, sociedade civil e formadores de opinião. Mas, acima de tudo, será do próximo presidente — que herdará um país cada vez mais dependente de um modelo assistencialista que não promove independência.
O Brasil precisa de um novo pacto social: justo, eficiente e com rumo. Porque dar é importante, mas libertar é essencial.