Lourival Cunha: Por que mortes em acidentes aéreos chocam mais do que acidentes terrestres?

Lourival Cunha, engenheiro e advogado - Para a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego do Rio Grande do Sul (ABRAMET/RS), seja no transporte aéreo ou no transporte terrestre, nenhuma morte é aceitável. Para quem fica a dor da perda é irreparável.


Seja no asfalto ou no ar, quando perdemos uma vida, partes de nós se vão em forma de amores, sonhos e histórias interrompidas por tragédias que não conseguimos explicar. Para quem fica a dor da perda é irreparável. Em 2024 o Brasil já registrou 135 ocorrências de acidentes aéreos, com 110 mortes, já considerando a recente tragédia aérea envolvendo o voo 2283, da Voepass, que caiu em Vinhedos, matando 62 pessoas, no último dia 09 de agosto. Os dados são da Rede de Segurança da Aviação (ASN), da Flight Safety Foundation, uma organização internacional dedicada à segurança da aviação. Por outro lado, no transporte terrestre, nos primeiros 6 meses deste ano, somente nas rodovias federais, 2.908 pessoas morreram em 35.166 sinistros, que deixaram mais de 40 mil feridos, conforme dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Para a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego do Rio Grande do Sul (ABRAMET/RS), seja no transporte aéreo ou no transporte terrestre, nenhuma morte é aceitável. No entanto, o que se percebe é que as mortes por acidentes terrestres se tornaram quase que habituais no inconsciente coletivo. Ou seja, banaliza-se as mortes por acidentes no trânsito por acontecerem diariamente, como mostram as estatísticas.

Por esta razão, buscamos possíveis respostas com uma especialista em Psicologia do Trânsito da Abrapsit Brasil (Associação Brasileira de Psicologia de Tráfego), para entender as razões pelas quais as tragédias aéreas com vítimas fatais causam maior consternação do que as mortes envolvendo sinistros de trânsito, já que em ambos os casos, são vidas humanas ceifadas.

Para a presidente da Abrapsit, Dra Patrícia Sandri, os sinistros de trânsito se tornaram corriqueiros e deixou-se de dar importância para esta tragédia e o quanto ela representa. “Jamais podemos medir a dor de uma perda, seja do aéreo ou de um sinistro de trânsito. Um ponto que é difícil de se assumir na questão do sinistro, que nem seria um acidente, já que é possível evitá-lo, é assumir que a responsabilidade é nossa”, explica Sandri. Ela ressalta que a maioria das tragédias no trânsito acontecem por falha humana.

“Por estarmos na direção de um veículo acreditamos que temos sempre o controle desta situação e temos mesmo, mas às vezes abusamos e não respeitamos as regras de trânsito e esta atitude pode ser fatal, já que 90% dos sinistros no trânsito ocorrem por falha humana e estão ligados aos nossos hábitos indevidos, então as regras acabam sendo desrespeitadas e ocorrendo as tragédias no trânsito”, lamenta Patrícia.

Para o presidente da ABRAMET/RS, Dr Ricardo Hegele, o valor de uma perda, seja ela qual for, não se pode mensurar. “No que se refere ao trânsito não podemos mais banalizar e tratar com normalidade as vidas que perdemos no asfalto. Não podemos aceitar que tantas pessoas no auge da sua vida e da sua produtividade tenham suas histórias interrompidas todos os dias por situações evitáveis”, diz.

De acordo com a Dra Patrícia, uma morte acontece a cada 15 minutos no trânsito, e um ferido e um sequelado a cada 2 minutos. “Comparando com os acidentes aéreos é como se caísse um avião a cada dia. Então, a dor de ambas as famílias, seja de um acidente aéreo ou de um sinistro de trânsito é idêntica. Não podemos comparar, mas o valor que se dá a cada um é o que muda”, diz Patrícia. Ela acrescenta que “morrer no trânsito é tido como um menos morrer, parece que as vítimas não têm vozes. Talvez a prevenção que acontece no aéreo seja diferente, pois existe todo um investimento e pesquisas. Valoriza-se muito mais todo este processo e no trânsito infelizmente isto não ocorre”, ressalta.

Cada vida importa! Pensemos sobre isto!!

As informações são de Marcele Saffi – Jornalista da Assessoria de Imprensa ABRAMET/RS
Fonte: portaldotransito.com.br

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