'Se tivesse outra casa, não estaria nessa situação', desabrigado pelas chuvas no Maranhão conta os dias para recomeçar a vida

Gilvan Ferreira é uma das 191 pessoas que estão abrigadas no alojamento da Paróquia Santa Terezinha, em Bacabal, cidade a 252 km de São Luís. Ao g1, ele diz que só vai sair do local se for para voltar para casa.
Gilvan Ferreira, a esposa e o neto estão desabrigados por conta das chuvas no Maranhão — Foto: Arquivo pessoal
Por g1 Ma — Há mais de 20 dias, o auxiliar de pedreiro Gilvan Ferreira, de 43 anos, precisou sair às pressas da casa onde vivia com a família, no bairro Trizidela, em Bacabal, cidade a 252 km de São Luís, devido a cheia do Rio Mearim.

Sem lugar para ter onde ficar, ele foi deslocado para o alojamento da Paróquia Santa Terezinha, que virou alvo de uma ação judicial, que considerou o local insalubre. Com uma moradia provisória e sem trabalho que, está parado devido as cheias do rio, ele conta os dias para voltar para casa e recomeçar, mais uma vez, a vida.


"A gente vive nessa peleja. É muito difícil, mas é aquela coisa, a gente não tem condições de comprar uma casa fora da área que enche, em outro bairro, muitas pessoas chegaram a ganhar, mas venderam. Se eu tivesse ganhado uma outra casa, eu não estaria nessa situação".

— Gilvan Ferreira, auxiliar de pedreiro e desabrigado pelas chuvas no Maranhão

Gilvan Ferreira está em um alojamento improvisado com a família em Bacabal (MA) — Foto: Arquivo pessoal

Natural de Bacabal, o auxiliar de pedreiro conta que a situação das cheias não é um problema antigo. Em 2020, em plena pandemia de Covid-19, ele também precisou sair de casa após temporais atingirem a cidade, que ficou alagada. Na época, Gilvan morava com a sogra, que era idosa, e tinha problemas de saúde.

Junto com Gilvan, veio também o neto, que está em idade escolar. Ao g1, ele conta que o menino não consegue ir à escola, que está alagada devido aos temporais. Sem expectativa de retorno à vida normal, o auxiliar agora aguarda o momento certo de ir para casa.

"A gente vive aqui o tempo todo esperando a hora certa de ir pra casa. Meu neto não tem ido à escola, porque está toda alagada, e tem ficado aqui com a gente. Ontem fui na minha casa, a água já baixou, mas agora é preciso esperar a água também sair das ruas. E com fé em Deus vai dar certo", diz.

Local não tem proteção adequada contra a chuva — Foto: Reprodução/TV Mirante

Para conseguir ir para o abrigo, Gilvan Ferreira deixou parte dos móveis em casa, que ficaram estragados por conta das chuvas. Tudo o que sobrou, ele levou com a família para o alojamento. Com o nível do Rio Mearim baixando aos poucos, o auxiliar de pedreiro espera voltar para casa até o fim do mês.

"Deixei metade do meu armário, meu guarda-roupa se perdeu também na água. Eu só quero voltar para minha casa, arrumar um serviço para continuar vivendo como antes e ter minha vida de volta", disse.

'Não quero sair do abrigo'
Ministério Público considerou o alojamento impróprio para abrigar os desalojados — Foto: Reprodução/TV Mirante

Gilvan Ferreira é uma das 191 pessoas que estão abrigadas no alojamento da Paróquia Santa Terezinha, em Bacabal. Uma ação do Ministério Público do Maranhão (MP-MA) pediu a retirada das famílias do local devido as condições inadequadas do espaço.

Ao g1, o auxiliar alegou que o espaço tem suporte suficiente para atender às famílias, com acesso à alimentação diária e suporte médico. Assim como outras famílias que estão no local, ele diz que não quer sair do alojamento.

"Aqui, todo mundo fala por uma boca só, ninguém quer sair. Só quer sair se for para ir direto para suas casas. Isso não tem nem dúvidas. Eu não quero sair do abrigo", afirmou.

O coordenador municipal da Defesa Civil de Bacabal, Leonardo Cutrim, também alega que, mesmo com a decisão judicial, as famílias não querem sair do alojamento. Ao g1, ele diz que a principal alegação é o desgaste psicológico que há, entre os desabrigados e desalojados, em se mudar de um local para o outro.

“A gente sempre ouve isso todas as vezes que a gente vai lá. Eles não querem sair do local. O relato deles é que pra saírem dali, tirar seus móveis, ir pra outro local e se instalar de novo se torna um desgaste psicológico. A gente vai lá [no abrigo] diariamente fazer entrega de quentinhas e outras necessidades. Sempre houve isso delas, que não querem sair, que é pra gente conseguir pra que elas permaneçam lá", explica.

Leonardo Cutrim afirmou que a Prefeitura de Bacabal vai cumprir com a decisão e fazer o remanejamento das pessoas para outros locais.

“A Prefeitura já providenciou. Nós já tínhamos outros locais separados por conta da necessidade de aumentar o número de famílias que precisavam de abrigos. Independente se era para as pessoas que estavam na quadra da Santa Terezinha ou para outros, já tinham outros locais pré-definidos para isso”, disse Leonardo.

Temporais atingem o Maranhão
Moradores usam barcos para conseguir se deslocar em cidade do Maranhão — Foto: Governo do Maranhão

Por causa das fortes chuvas que atingem o Maranhão, 67 municípios do estado já decretaram situação de emergência (Veja a lista completa no fim da reportagem). Até o momento, seis mortes foram confirmadas e das 38.476 famílias afetadas, 8.099 estão desabrigadas e desalojadas.

O Governo Federal reconheceu, na quarta-feira (12), a situação de emergência em mais 14 cidades do Maranhão atingidas pelas fortes chuvas. Com o reconhecimento, os municípios podem solicitar recursos federais para ações de defesa civil.

A Defesa Civil informou que segue monitorando os episódios em que prejuízos e danos foram causados à população por conta do período chuvoso.

De acordo com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Sedes), os restaurantes populares dos municípios atingidos vão ampliar a oferta de refeições no modelo híbrido (distribuição de quentinhas). Até o momento, 200 mil refeições foram entregues.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem