A notícia que faltou sobre a debandada do PMDB e congêneres

Matheus Pichonelli

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Mais de dez anos, sete ministérios, muito sangue sugado em diretorias de estatais e fundações e alguns escândalos protagonizados ou co-protagonizados depois, o PMDB mandou empenhar ou derreter a aliança com o PT para governar o país. A decisão tem sido noticiada como um desembarque. Errado.
O PMDB fica onde sempre esteve desde o fim da ditadura. Quem está sendo convidado a se retirar são os petistas, que já não se constrangem em disfarçar a liquidação para garantir migalhas de aliados e neoaliados em troca de postos-chave no governo.
Para o PMDB, que há anos fala em candidato próprio para a Presidência, é a chance de repetir a História e assumir o posto sem precisar disputar qualquer voto direto. A pressa tem razão de ser, a se observar a nuvem da Laja Jato sobre líderes e partidos para além do círculo restrito do pedido de impeachment.
Se a eleição fosse hoje, segundo o Datafolha, Michel Temer, hospedeiro que agora pede a chave da casa, teria 1% das intenções de voto. Ele está prestes a assumir o posto caso a presidenta, criticada nas ruas pelos desvios na Petrobras, seja ejetada pelos deputados em razão das chamadas pedaladas fiscais – embora ele e futuros vitoriosos em caso de queda tenham assinado algumas pedaladas e sejam igualmente citados em delações da Lava Jato.
Quem puxou a debandada foi o até ontem ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, deputado desde 1971 que responde na Justiça por enriquecimento ilícito em ação de improbidade e é acusado de direcionar emendas para a empresa de um assessor de seu gabinete. Em dezembro do ano passado, seu apartamento em Natal foi alvo de um mandado de busca e apreensão durante as investigações da Lava Jato. Uma série de mensagens trocadas entre o colega Eduardo Cunha e Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, empreiteira investigada na operação, mostrou, recentemente, o presidente da Câmara, responsável pela abertura do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, solicitando ao empresário repasse de dinheiro para o futuro ex-ministro.
Sem os votos do maior partido na Câmara, fica quase impossível evitar a debandada dos até ontem parceiros de empreitada petista. A expectativa é que o PP, acusado de desviar R$ 358 milhões dos cofres da Petrobras, o PSD, legenda do (ainda) ministro das Cidades Gilberto Kassab, investigado num processo sobre fraude para a inspeção veicular em São Paulo e em cuja gestão foi montado um esquema de desvio do Imposto sobre Serviços na Prefeitura, e o mensaleiro PR, partido do ex-ministro Alfredo Nascimento (AM), demitido em 2011 após denúncias de esquema de faturamento em obras do Ministério dos Transportes, também anunciem o rompimento com o governo. Herdeiro da pasta, o suplente de senador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), investigado pelo Ministério Público de São Paulo por suposto enriquecimento ilícito, é quem tenta segurar o desembarque.
Pelo PMDB, o próximo a anunciar a demandada é o ministro da Secretaria de Portos Helder Barbalho, que até outro dia tentava barrar na Justiça a veiculação de notícias sobre sua gestão como prefeito em Ananindeua, no Pará. O futuro ex-ministro é filho de Jader Barbalho, senador acusado de desvios na Sudam e agora suspeito de receber recursos e favores da Odebrecht, principal empreiteira investigada na Lava Jato.
Sem a maior bancada da Câmara, onde 26% dos deputados respondem a alguma denúncia de corrupção (entre os responsáveis por analisar o impeachment a proporção é de 1 em cada 3), o governo passa a apostar as fichas no Senado, onde o índice de acusados é próximo de 40%. Lá reside Renan Calheiros, última peça da trinca peemedebista que parece disposto a oferecer um bote para a gestão petista. Entre outras pendências judiciais, ele é réu na Justiça em um processo que o acusa de receber propina da empreiteira Mendes Junior em troca de emendas parlamentares.

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